No mês de julho de 1991, o Pearl Jam lançava o primeiro single de sua carreira.
E não poderia ser de uma forma mais marcante: o quinteto originário de Seattle (EUA) estreava com a música "Alive", que se tornaria um hino da história do rock e ainda ajudou a construir a lendária cena do "grunge", nos anos 90.
Com seu refrão forte e marcante, a música foi adotada por muitos fãs como uma espécie de oração ou mesmo um momento de celebração para reafirmar a sua existência.
Porém, o significado original desse refrão, e de parte de sua letra, não poderiam ser mais diferentes.
Na verdade, trata-se de uma história triste e chocante vivida pelo vocalista da banda Eddie Vedder, envolvendo a sua família.
Vamos contar aqui um pouco mais sobre o real significado de Alive e como os fãs ajudaram a mudá-lo, ao longos dos anos.
A ORIGEM
Em 1991, o baixista Jeff Ament e os guitarrista Stone Gossard e Mike McCready gravaram uma demo que trazia o instrumental de três músicas, entre elas uma que futuramente se chamaria "Alive".
Procurando um vocalista, a banda era amiga do baterista Jack Irons (ex-Red Hot Chili Peppers) que conhecia um surfista de San Diego, Califórnia, que poderia ser a solução.
Inspirado pelas ondas, "Crazy Eddie" (como era conhecido Vedder) ele escreveu as letras em um caderno e gravou seus vocais para as canções deste grupo de Seattle, cujo os integrantes ele nunca havia visto ou conversado antes.
Eddie mandou a demo de volta e a reação de Jeff, Stone e Mike foi imediata: comprar uma passagem de avião de San Diego para Seattle para conhecê-lo e ensaiar mais músicas com aquela voz que tanto os impressionou.
Assim nasciam o Pearl Jam e "Alive".
A HISTÓRIA TRÁGICA POR TRÁS DA LETRA
Na canção, o protagonista descobre que o homem que acreditava ser seu pai, na verdade, não era seu pai biológico, e que seu verdadeiro pai já havia falecido sem que ele tivesse a chance de conhecê-lo.
Esse enredo reflete a vida do próprio Eddie Vedder na adolescência, quando ele descobriu essa verdade sobre sua família, contada pela própria mãe.
E o homem com quem conviveu até à sua adolescência achando que era o seu pai, foi uma pessoa com quem ele também teve um relacionamento difícil.
Não bastasse isso, a letra ainda sugere uma relação complicada com a mãe, trazendo uma atmosfera de dor, confusão e solidão para aquele adolescente.
Aos 17 anos, Eddie deixou sua casa e foi morar sozinho. Esutadava e trabalhava para se manter até que aos 18 anos decidiu se mudar para Chicago, novamente com sua família e adotar o sobrenome "Vedder", que era por parte da sua mãe.
UM DIFERENTE SIGNIFICADO PARA "I'M STILL ALIVE"
Para Vedder, o refrão “I'm still alive” ("Eu ainda estou vivo") não era um grito de vitória, mas quase uma condenação: estar vivo significava carregar esse peso existencial.
Ou seja, com toda a mentira que viveu até ali aos 16 anos e a impossibilidade de poder conversar e ver seu verdadeiro pai, ele "ainda estava vivo", como se isso fosse um castigo.
O próprio cantor deu detalhes sobre essa história no programa VH1 Storytellers.
Ele chamava a música de "A maldição" devido a todo o peso que sua letra trazia.
A "MALDIÇÃO" E COMO OS FÃS AJUDARAM A QUEBRÁ-LA
Se quando gravaram "Alive", ela tinha uma conotação mais pessimista, com o passar do tempo, isso foi mudando.
Nas apresentações ao vivo, os fãs passaram a cantar o refrão como uma celebração da sobrevivência, transformando a dor em catarse coletiva.
Essa energia mudou também a percepção do próprio Vedder sobre a música, que passou a enxergá-la menos como um relato sombrio e mais como um hino de resistência.
Ainda na apresentação para o VH1 Storytellers, ele fala sobre o papel fundamental dos admiradores da banda para a mudança do significado de "Alive".
"Quando eles (fãs) cantam "I'm Still Alive" ("Eu continuo vivo") é como se estivesse celebrando. E, aqui, eu digo para vocês. Quando eles mudaram o significado daquelas palavras, eles quebraram "a maldição", conclui.
Assista ao vídeo de Eddie Vedder falando sobre a "Alive" a seguir: