Todas as cartas de amor são Ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas. Também escrevi em meu tempo cartas de amor, Como as outras, Ridículas. As cartas de amor, se há amor, Têm de ser Ridículas. Quem me dera no tempo em que escrevia Sem dar por isso Cartas de amor Ridículas. Afinal, só as criaturas que nunca escreveram Cartas de amor, É que são Ridículas.
Porém não tive coragem de abrir a mensagem Porque, na incerteza, eu meditava Dizia: “será de alegria, será de tristeza?” Quanta verdade tristonha Ou mentira risonha uma carta nos traz E assim pensando, rasguei sua carta e queimei Para não sofrer mais
Quanto a mim o amor passou Eu só lhe peço que não faça como gente vulgar E não me volte a cara quando passa por si Nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor Fiquemos um perante o outro Como dois conhecidos desde a infância Que se amaram um pouco quando meninos Embora na vida adulta sigam outras afeições Conserva-nos, caminho da alma, a memória de seu amor antigo e inútil